É-me vedado ordenar ao meu cérebro que me apresente relatórios detalhados. É bem certo que uma vez por outra ele se digna a fazer-me algumas confidências. Mas são como que desabafos dele. Por outro lado, e essa é uma perspectiva que jamais me abandonou, julgo demasiado conhecer o meu cérebro para lhe exigir o posto de ordenança. Limito-me, de quando em vez, a pedir-lhe alguma contenção, e, em raros momentos venturosos, que em meu proveito deixe escapar alguma frescura da água em que permanentemente se afoga. Ele habituou-se - é o termo exacto - a satisfazer essas minhas poucas vontades. De qualquer modo, fora de questão esteve sempre visitá-lo em sua casa, conhecer as suas habitações, desvendar os seus petits secrets. Nunca me convidou, e ademais, ainda que o fizesse, jamais me atreveria a corresponder a tal convite. Não sou assim tão corajoso, ou sequer curioso. O meu cérebro abriria a boca de espanto ao ouvir-me proferir um tão longo e laborado discurso, e não insistiria no convite. (da contracapa).
Com três pinturas de Helena Teotónio Pereira. Revisão: Dulce Pascoais. Paginação: Carlos Miranda/Ana Cristina Alvarinhas. Foto da capa: Pedro Silvério. Reprodução fotográfica: Luís Vintém. Edição: Júlio Henriques.
Livros Flauta de Luz.
Novembro de 2025. 222 Págs. broch. Novo.
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