Domingues (Mário) - A Liberdade não se Concede, Conquista-se Que as Conquistem os Negros!

Essas revoltas periódicas que se verificam aqui e acolá, não são mais do que prenúncios duma revolução imensa que abaterá o poder, não apenas um país, mas de todas as potências coloniais. Parece estar indicado que o movimento emancipador dos africanos tende a generalizar-se, aproximando-se do ideal duma confederação continental. Não estão as colónias portuguesas, infelizmente, tão adiantadas como as inglesas ou alemãs em matéria revolucionária, mas as perseguições e as violências que sobre elas pesam levá-las-ão ao caminho do ideal emancipador. A tirania cria tiranizando uma grande sede de liberdade. A flor do ideal  principia agora a desabrochar nas colónias portuguesas. Breve talvez - a continuarem os assassinatos e as extorsões a que temos feito referência - a luta pela independência, luta franca e leal, começará a fazer o seus efeitos. Irão daqui expedições patrióticas submeter o gentio rebelde, espalhar a morte e a injustiça pelos sertões. Os jornais apodarão os revoltosos de traidores à pátria, como se Portugal, com todos os seus abusos e violências, pudesse ser considerado pátria pelos tiranizados, pelos escravos infelizes. O negro não pode ter deveres para com o país que lhe rouba todos os direitos!

Antologia de Textos de A Batalha.

Introdução de António Baião. Estabelecimento de texto e notas: Zetho Cunha Gonçalves. Revisão de Andreia Baleiras. Concepção gráfica: Bruno Inácio.

Edição: Falas Africanas/Letra Livre/A Batalha.

2023. 242 Págs. broch. novo. 16. €.