No segundo piso do Madalena-Bastilha, uma mulher jovem (criatura de físico bastante sedutor, não diremos agora o contrário, mas de rudimentar cultura mundana e de colóquio trivial) rebentou de riso à vista do cavalheiro condecorado com quem ficou frente a frente no Batignolles-Clichy-Odéon, e fez-lhe atrevidamente a pergunta desde há algum tempo a esta parte muito em moda em Paris, e que as pessoas a cada passo repetem, sem que exista para isso a menor das justificações: - O que é que tomas tu para a constipação? O quinquagenário sanguíneo, a quem era proposta tão descabida questão, infelizmente não podia ser considerado pessoa de espírito e tolerância. Em vez de encolher os ombros com indiferença, desfez-se em mil invectivas conta a jovem frívola, chamando-lhe sucessivamente pega, cabra e porca, triplo insulto revelador de um profundo respeito pela zoologia, mas igualmente revelador de um não menos elevado grau de obsessão pela lógica, AA.
Selecção, apresentação e tradução de Aníbal Fernandes.
Revisão de Andreia Baleiras.
Capa e grafismo de Luís Henriques.
Maldoror.
Julho de 2021. 310 Págs. broch.
€ 14,00.