Trata-se de um aspecto da nossa decadência que escapou aos anarquistas, os mais recentes pelagianos, mas que tiveram sobre os seus antecessores a superioridade de rejeitar, por culto da liberdade, todas as cidades, a começar pelas «ideais», trocando-as por uma variedade nova de quimeras, mais brilhantes e mais improváveis do que as antigas. Se se insurgiram contra o Estado e reclamaram a sua supressão, é porque viram nele um obstáculo ao exercício de uma vontade fundamentalmente boa; ora, é precisamente por esta última ser má que o Estado nasceu; e se o estado desaparecesse, vê-la-íamos comprazer-se no mal sem quaisquer restrições. O que não impede que a ideia de aniquilar toda a autoridade continue a ser uma das mais belas alguma vez concebidas. e nunca choraremos bastante a extinção da raça dos que a quiseram realizar, E. M. Cioran.
Tradução de Miguel Serras Pereira.
Revisão de Andreia Baleiras.
Grafismo de Pedro Serpa.
Edição: Livraria Letra Livre.
Lisboa. 2014. 140 Págs. broch. € 14,00.