Junho de 2025 - 196 pp., 10 €. Ed. e coord. Júlio Henriques. Grafismo Gonçalo Mota. Capa Miguel Carneiro, Ariana Victorino.
«Habitar poeticamente o mundo é o opos-to de habitar tecnicamente o mundo. [...] É muito difícil habitar poeticamente um mundo infeliz, mas é possível. E é tanto mais necessário quanto o mundo se per-de, se deteriora, se despedaça.» Christian Bobin.
Neste número, a íntima relação entre desenvolvimento tecnológico e destruição é também ilustrada pelo que se passa em Portugal, quando o extractivismo de miné-rios passou a estar na ávida agenda dos governos e se tornou urgente desmontar a grande falácia da «transição energética». No plano global, no dossiê dedicado à Palestina, vemos no tecnológico genocídio do povo palestiniano uma decisiva demonstração daquilo que a civilização euro-americana tem de fatídico: Israel, o Estado criado no Médio Oriente por duas potências ocidentais, a Grâ-Bretanha e a França, aplica agora totalmente o modelo colonial de extermínio com que veio ao mundo o país chamado Estados Unidos da América. E que o Estado sionista inflija um aniquilamento tecno-militar seme-lhante àquele que o Estado nazi infligiu à população judaica é demonstrativo do que significa o actual percurso civilizacional: Gaza é o destino da humanidade, o pro-gresso reduz-se ao progresso das coisas. Como mostra Ailton Krenak, «...o programa de longa duração do capitalismo é integrar-nos a todos como clientes e apagar a nossa memória de cidadania.» Dois estudos, «o pior país do mundo?», do naturalista americano Paul Donahue, e «Obsolescência da maldade», do filósofo alemão Günther Anders, expôem as pro-fundas ligações entre desen-volvimento industrial e irracionalismo. Na parte dedicada a África, faz-se «uma descoberta africana»: a rejeição por popu-lações camponesas do Senegal do modo europeu de exploração da terra e do trabalho. este número incluiu humor, poesia e ficção de Abdul Kader El Janabi, Alfred Jarry, As-ma Azaieh, Christian Bobin, David Diop, David Watson, Fadwa Tugan, José Miguel Gervásio, Júlio Henriques, Marilynn Ra-shid, Miguel Bermejo, Slawomir Mrozek. Desenho e fotografia de Acção colectiva, André Lemos, António José Lopes, Atom Gobi, Bruno Borges Jean-Michele, Beaudet, José feitor, Juan R. Fuentes, Mariya neveyetaylo, Miguel Carneiro.